Às voltas com a leitura de obras consagradas da literatura brasileira e portuguesa, para trabalhar as Leituras Obrigatórias do Vestibular da UFRGS/2012 com os alunos do 3o. ano do Ensino Médio, percebi como é bom revisitar, mais madura, as obras que eu também fui obrigada a ler na adolescência. (Acho, no entanto, que obrigar alguém a ler, como dizia Monteiro Lobato, é vacinar o indivíduo contra a leitura pro resto da vida!!!)
Mas tive uma grata surpresa com a releitura de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, uma obra do mestre Machado de Assis, que, por ser um clássico, é atemporal e imortal. Ítalo Calvino, em seu livro cujo título eu roubei para intitular este post, diz que os clássicos são aqueles livros aos quais os bons leitores se referem com a frase "Estou relendo...", pois ele acredita que as obras ditas clássicas devem fazer parte das leituras de formação de qualquer bom leitor. E Calvino ainda diz que os clássicos são aqueles livros que parecem nunca terminarem de dizer o que tinham para dizer. Além disso, quanto mais pensamos conhecê-los, mais nos surpreendemos com eles, quando os lemos de fato.Pois bem, tendo por base as ideias de Calvino, realmente me surpreendi ao reler MEMÓRIAS PÓSTUMAS...O defunto-autor(Sim, é isso mesmo!!! Para quem nunca leu, esse livro é narrado por um defunto que resolve contar como foi sua vida!), com sua personalidade ímpar _ ao retratar a sociedade escravocrata com uma ironia impiedosa, mas divertida _ vai descrevendo a família brasileira em seus mais diversos aspectos. Brás Cubas, que procura levar vantagem em tudo, até mesmo no amor, é um morto que nos conta uma história mais viva do que nunca.
Talvez essa obra de Machado não seja a mais indicada para ser exigida num vestibular, pois os estudantes do Ensino Médio, em sua maioria, desconhece esse tipo de leitura e pode não ter maturidade suficiente para entender a prosa machadiana. No entanto, acho que não custa nada estimulá-los a conhecer esses clássicos, pois um bom estímulo pode transformar leitores medianos (que só leem best-sellers ou livros espíritas, por exemplo...) em grandes leitores e conhecedores da literatura mundial. Não tenho nada contra best-sellers nem livros espíritas, mas acho que devemos diversificar nossas leituras, para aprendermos mais com os livros sobre nós mesmos e sobre o mundo que nos cerca. Lendo os clássicos da literatura brasileira, por exemplo, aprendemos como nossa sociedade se constituiu e se tornou o que é. E é isso que fez Machado de Assis, em MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS e em todas as suas obras do Realismo, criticando com fina ironia, mas sem fazer escândalo, o modus vivendi da elite carioca do séc. XIX, dissecando a alma humana e desnudando a mediocridade burguesa.
Por essas e outras, Machado é considerado um dos 100 melhores escritores de todos os tempos e reverenciado como mestre por críticos do mundo todo. Muitos dos seus livros podem ser considerados como alguns dos mais importantes clássicos da literatura mundial e permitem, assim, que a literatura brasileira atravesse fronteiras, tornando-se respeitada e reconhecida em muitos países.
